Certamente você já ouviu – ou até mesmo usou – a expressão “Vai para a pqp!” em situações de irritação ou descontentamento. Porém, já parou para refletir sobre o que essa frase realmente carrega em termos de significado implícito? Embora, à primeira vista, pareça um xingamento trivial, ela carrega uma profundidade que muitas vezes passa despercebida.
Intuitivamente, a figura materna, ao que parece, não é diretamente envolvida nesse tipo de expressão. O destinatário do xingamento é o indivíduo em questão, e a ordem parece exclusivamente direcionada a ele. Entretanto, ao analisarmos mais a fundo, a mãe – e, mais especificamente, o ventre materno – desempenha um papel fundamental na construção desse insulto. Afinal, “mandar alguém para a pqp” pode ser interpretado como uma ordem para “voltar ao ventre materno”. Em outras palavras, a mensagem subjacente é ainda mais contundente: “Era melhor que você não tivesse nascido”.
O lamentável da história é o termo ofensivo atribuído à nossa sagrada figura materna. Mas – convenhamos – quando empregamos essa expressão, a última intenção é a de xingar a mamãe alheia. A intenção é o que conta…
Essa ideia de desejar o retorno ao ventre materno, ou até mesmo lamentar o nascimento de alguém, não é uma criação contemporânea. Na verdade, remonta a referências bíblicas e históricas. Um exemplo significativo encontra-se nos Evangelhos: diante da traição iminente, Jesus declara sobre o traidor que “melhor lhe fora não ter nascido” (Mateus 26, 24).
Assim, ao dizer algo tão aparentemente simples como “Vai para a pqp!” (No Rio de Janeiro, geralmente se emprega a partícula “te” duas vezes, para dar ênfase: “Vai-te para a p… que te pariu…”), há um peso simbólico implícito de exclusão do convívio humano, de negação da própria existência do outro. A ideia é clara: se alguém merece “voltar para o ventre materno”, é porque não deveria sequer ter nascido.
Além de seu uso como expressão de rejeição pessoal, “pqp” também se consolidou no imaginário coletivo como uma forma de se referir a um local extremamente distante (Você mora lá na pqp!). Essa ampliação semântica do vocábulo ilustra uma das características mais fascinantes da língua portuguesa: sua capacidade de ressignificar expressões conforme os usos sociais.
Quando alguém diz que algo “fica na pqp!”, há uma metáfora implícita que associa a ideia de “distância física” à exclusão ou dificuldade de acesso. Essa transformação semântica não apenas preserva o caráter de afastamento (a “rejeição simbólica”), como o expande para uma dimensão geográfica, transformando “pqp” em sinônimo de um lugar longínquo ou de difícil chegada, o núcleo de um adjunto adverbial de lugar.
Outro aspecto interessante da expressão “pqp” é sua evolução para o papel de interjeição, frequentemente utilizada para expressar espanto, indignação ou surpresa. Nesse contexto, o termo se desprende de seu significado literal ou metafórico original e passa a funcionar como uma reação instantânea, muitas vezes carregada de emoção, frente a uma situação inesperada ou impactante. Você certamente já respondeu alguma mensagem alvo de indignação com um “pqp!”.
Esse fenômeno reflete a flexibilidade da língua e como o contexto sociocultural influencia a polissemia de palavras e expressões. No caso de “pqp”, a ampliação semântica reforça seu valor expressivo, indo além do insulto e se tornando uma referência compartilhada de algo inatingível ou afastado, mostrando, mais uma vez, o dinamismo e a criatividade presentes no uso cotidiano da linguagem.
Espero que você tenha curtido o texto. Caso não tenha curtido, leia novamente o título deste! heheheheh
Professor Fabrício Dutra Professor de língua portuguesa há nove anos, formado pela UFRJ. Nasci no Rio de Janeiro, mudei-me para Brasília em 2012, e foi a cidade onde minha carreira começou de verdade. Ministrei aulas de Língua Portuguesa principais cursos preparatórios da capital dos concursos e já ajudei milhares de alunos a conseguirem algo que eles, de certa forma, perderamm impossível: aprender Gramática da Língua Portuguesa e fazer uma em condições reais de passar.