O pronome ‘lhe’ pode exercer a função de sujeito?

“Professor, o pronome LHE tem a possibilidade de exercer a função sintática de sujeito?

Eis uma belíssima pergunta que recebi. Precisamos, seriamente, conversar sobre isso.

Primeiramente, você nunca pode abandonar o fato de que, na maioria das vezes, o pronome ‘lhe’ exercerá função de objeto indireto, em que completa um verbo transitivo indireto que exige preposições ‘a’, ‘para’ e, em alguns casos, ‘em’. Como no exemplo abaixo:

Este assunto interessa aos alunos. (Este assunto interessa-LHES / Este assunto LHES interessa.)

Atenção! Este pronome servirá para substituir coisas e pessoas, beleza? Eu sei que muita gente aprende que o pronome ‘lhe’ é exclusivo para pessoas, mas isso não procede.

Eu jamais perdoarei a esse homem. (Eu jamais lhe perdoarei.)

O documento pertence ao processo. (O documento pertence-lhe.)

Cuidado! O pronome ‘lhe’, na língua portuguesa, tem usos mais versáteis do que apenas como objeto indireto.
Além dessa sua função mais conhecida, o “lhe” pode também atuar como complemento nominal ou
como adjunto adnominal, esta função especialmente quando expressa uma ideia de posse. Observe os exemplos:

Esta proposta lhes foi favorável. (Quem é favorável, é favorável a alguém. Isso significa que o ‘lhe’ está exercendo a função de complemento do adjetivo ‘favorável’, não de um verbo.)

Roubaram-lhe a carteira. (Neste caso, “lhe” indica a quem pertencia a carteira roubada, funcionando como um indicativo de posse. Aqui, o pronome “lhe” está dando uma nuance de adjunto adnominal, pois esclarece a relação de posse entre o dono e a carteira, mesmo estando conectado ao verbo.)

O “lhe” pode ser sujeito? (Eis a dúvida da aluna!)

Não é comum isso cair em provas, mas existe, no português brasileiro, uma possibilidade de o ‘lhe’ ser sujeito de um verbo.

Deixou-lhe levar as crianças. (Isso equivale a dizer ‘Deixou que ele levasse as crianças’).

Isso será possível com verbos causativos (mandar, deixar, fazer, permitir) e sensitivos (ver, ouvir, sentir). Tais verbos, seguidos de pronomes oblíquos átonos e verbos no infinitivo ou gerúndio, aceitarão a construção em que os pronomes átonos exercerão a função de sujeito (conhecido como sujeito acusativo).

A maioria dos gramáticos considera que o pronome oblíquo tem função de sujeito do verbo no infinitivo/gerúndio, como em “Mandaram-me entrar” (equivalente a “Mandaram que eu entrasse”).

Preste mais atenção aqui!

Sobre o pronome ‘lhe’, há uma particularidade: ele pode ser aceito como sujeito do infinitivo apenas se esse verbo exigir um complemento direto, como em ‘O professor mandou-lhe calar a boca‘, equivalente a ‘O professor mandou que ele calasse a boca. Nesse exemplo, o pronome ‘lhe’ exercerá a função do sujeito do verbo CALAR, pois tal verbo apresenta objeto direto: a boca.

Conforme essa lição, a frase ‘O professor mandou-lhe sair’ seria incorreta, visto que o verbo ‘sair’ não é transitivo.

Espero ter ajudado.
Sempre que precisarem, mandem suas dúvidas no instagram @proffabriciodutra.

Bons estudos, família!

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